Por: Felipe Prince, economista-sócio F. Prince Consultoria.
A análise de preços da soja e do milho – os dois principais grãos produzidos pelo Brasil – nos dois primeiros meses de 2019 indica um aumento de preços acima do índice de inflação IPCA.
Segundo dados do CEPEA/ESALQ, a média do preço da soja em janeiro e fevereiro/18 (porto de Paranaguá) foi de R$ 68,32/saca, enquanto no mesmo período de 2019, o preço médio foi de R$ 72,38/saca, o que significa aumento de 5,94% no período. O gráfico abaixo demonstra a evolução do preço no período, onde também é possível observar que os produtores de soja que fizeram o travamento de preço em setembro/18 foram os que conseguiram melhores preços. Porém, esse não é um mês em que existem muitas operações de travamento de preços, já que as campanhas de vendas de insumos costumam ocorrer alguns meses antes.
SOJA – Evolução do preço – R$/saca – Porto de Paranaguá/PR
Fonte: CEPEA/ESALQ
O quadro de oferta e demanda nacional da oleaginosa indica um nível de estoques muito baixos nos dois últimos anos, níveis que não eram verificados desde a Safra 2011/12. Segundo o relatório de fevereiro/19 da CONAB, há uma estimativa de redução da produção de 3,93 milhões de toneladas na Safra 2018/19 em relação à safra 2017/18. As principais regiões responsáveis pela queda são Paraná, Mato Grosso do Sul e Bahia, em função de adversidades climáticas.
Destaque para as exportações, que devem sofrer uma queda significativa, no montante de 12,10 milhões de toneladas (redução de 14,5%), em função de menor disponibilidade de estoque. Já o consumo no mercado interno deve apresentar ligeiro aumento de 1,4 milhão de toneladas.
SOJA – Quadro de Oferta e Demanda Doméstica – Em mil tons
Fonte: CONAB, fev/19
Quanto ao milho, apresentou preço médio de R$ 32,89/saca nos meses de janeiro e fevereiro/18, enquanto no mesmo período de 2019, o preço médio foi de R$ 38,87/saca, o que significa aumento de 18,15%,
MILHO – Evolução do preço R$/saca – Praça Campinas/SP
Fonte: CEPEA/ESALQ
O quadro de oferta e demanda doméstica do cereal indica uma estimativa de redução de 9,4% dos estoques finais na Safra 2018/19 em relação à Safra 2017/18. Isso porque, apesar do significativo aumento da produção (de 13,45%), há um aumento do consumo no mercado interno (4,4%) e das exportações (25,2%) do milho.
MILHO – Quadro de Oferta e Demanda Doméstica – Em mil tons
Fonte: CONAB, fev/19
Observamos que os preços da soja e do milho apresentarem aumentos acima do índice de inflação nesse período. O IPCA-15, por exemplo, apresentou acúmulo de 3,72% no período entre março/18 e fevereiro/19. A tabela abaixo resume essas variações:
Variação de preços: SOJA / MILHO / INFLAÇÃO (jan/fev 2019 x jan/fev 2018)
Fonte: F. Prince Consultoria
Apesar do aumento dos preços verificados nesse período, os produtores rurais não podem comemorar muito. Isso porque houve uma desvalorização de 15,84% da moeda brasileira frente ao dólar nos dois primeiros meses de 2019 (dólar comercial médio a R$ 3,73/US$) em relação a janeiro e fevereiro/18 (dólar comercial médio a R$ 3,22/US$).
E, como se sabe, grande parte dos custos de produção da agricultura brasileira é encarecida com a desvalorização cambial, em função da necessidade de importação de matéria-prima para a produção dos químicos e fertilizantes aplicados na lavoura. Ou seja, para a soja e milho, o cenário é de aumento do faturamento dos produtores, mas com a contrapartida do aumento dos custos de produção.